CadernoB

O centro da cidade ainda continua destruído, como pode-se observar nas imagens acima. Segundo informações, não está prevista nenhuma construção para essa área. O local fica as margens do Rio Mundaú, que no mês de junho devastou grande parte da cidade, incluindo alguns prédios públicos, a rodoviária e várias residências.

Os primeiros problemas identificados na cidade, são a falta de pontes seguras para a população se deslocar para algumas partes de Branquinha. Esta ponte cruza o riacho conhecido por Branca, que segundo o relato dos moradores, está sendo mais poluído a cada dia e as autoridades municipais nada fazem para conter a poluição do riacho que corta a cidade.

O perigo se torna maior ainda, quando crianças passam pela ponte diariamente para ir à escola, pois a ponte batizada de "pinguela" pelos moradores não possui corrimão.

A mesma foi feita com a ajuda de trilhos antigos e algumas madeiras. De acordo com moradores, a reconstrução de todas as pontes se dará após a reconstrução da ponte que cruza o Rio Mundaú .

Ao procurar informações sobre a recontrução da ponte, foi relatado ao blog por um funcionário que não existe previsão para o término.

Enquanto isso , a passagem de pedestres para a outa margem do Rio Mundaú se dá por uma ponte improvisada de madeira, onde não é possível o trânsito de automóveis.
Em relação a Educação, o município possuía três escolas e hoje apenas duas escolas estão funcionando, pois uma não suportou a violência da água e desabou. Uma Municipal e outra Estadual que montaram um esquema para que fosse possível acomodar os alunos das três.

As escolas encurtaram os horários de aulas da seguinte forma: H 7:00 - 10:30, H 10:30 - 14:30 e das H 14:30 - 18:00. No turno da noite, o horário manteve-se normal.

O término do ano letivo de 2010 está previsto para fereiro de 2011. A merenda está sendo distribuída normalmente nessas escolas. Também há algumas extensões, que servem para acomodar os alunos de uma melhor forma.

Imagem da Escola Municipal Mário Gomes.


Outra carência encontrada, é em relação ao sistema de abastecimento de água potável. A cidade de Branquinha não possui água encanada própria para consumo humano, serve apenas para utilidades domésticas.


Uma forma de burlar esse empecilho, é o abastecimento de água potável via carro-pipa, que é feita diariamente nas ruas da cidade, segundo o motorista de um deles.

Seu João também nos mostra outra forma de reservar água distribuída pelo carro-pipa. Essa caixas d'água foram doadas em junho e hoje ainda ficam expostas nas calçadas.

De acordo com o morador, a água é um dos maiores problemas da cidade, pois quando falta, é necessário buscar em uma localidade distante e não podem esperar pelo serviço do carro distribuidor. A sede não tem hora, completa.

A população não tem mais onde praticar esportes de maneira adequada, a quadra municipal foi parcialmente destruída, restando apenas o piso e as traves. Este mesmo espaço é utilizado pelos estudantes nas aulas de educação física da Escola Municipal.


Andando mais um pouco, encontro uma situação inusitada, um morador pescando no riacho "Branca". Ao levantar o anzol, foi enganado por uma latinha, que de intrusa se agarrou. O morador confidenciou que estava alí apenas por diversão, e os possíveis peixes pescados seriam doados para familiares e amigos.

O mesmo ainda disse que não tem coragem de comê-los. "Estão jogando esgoto aqui no riacho, está ficando igual a Lagoa Mundaú."

Logo bem próximo ao senhor pescando, atrevessei a "pinguela" e encontrei a simpática dona Antônia, vendedora de pipocas e confeitos que alegram a criançada. "A cheia derrubou minha barraca, mas ergui novamente e é daqui que tiro meu sustento. Estou doente e não posso procurar emprego, a criançada são meus clientes fieis. Deus te proteja."
Sigo meu caminho e indago as pessoas sobre o atendimento médico na cidade. Algumas pessoas que preferem não se identificar, afirmam que tem um médico para mais de mil famílias e não estão dando conta de todas elas.

A Secretária de Saúde do Município foi procurada pelo Blog, mas estava em compromisso na cidade de União dos Palmares, que fica à menos de 15 Km de distância.

Imagem do Posto de Saúde, montado ao lado de um posto de gasolina e das secretarias de Saúde e Educação.


O Blog visitou a Secretaria de Assistencia Social, a Secretária estava em Maceió e só chegaria na parte da tarde. Uma funcionária me passou algumas informações. "Estamos pagando um auxílio aluguel que pode chegar no máximo a RS300,00. Não é necessário alugar uma casa aqui, pois a cidade não possui imóveis suficientes, os moradores estão migrando para outros municípios." Ao ser questionada sobre a veracidade dos alugueis, ela informou que foram feitas visitas afim de comprovar que as pessoas de fato estavam morado nas casas informadas. "Esse auxílio aluguel vai ser suspenso e vamos fornecer apenas uma ajuda de custo no valor de R$80,00. Continua.

Outra moradora que não quis se identificar (alguns moradores, prestaram informações exigindo que seus nomes fossem mantidos em sigilo, pois temem sofrer perseguições de cunho político por se tratarem de funcionários municipais) está se perguntando como vai conseguir o dinheiro para completar o valor de R$300,00 que paga na atual casa, alugada devido ao auxílio.





O Sr. Aldamir ao ser questionado sobre a situação da cidade, foi categórico ao informar que está tudo normal. "Temos apenas agumas pendências, mas está tudo normal." Em relação as reclamações do atendimento médico, Aldamir disse que não procedem.

"Trabalhamos com PSF em todas as localidades. Em relação à Educação, nossas escolas voltaram todas ao normal, tivemos um atraso no início, mas fizemos um cronograma de horários para voltar ao normal e estamos servindo merenda aos nossos alunos. As cestas básicas ainda estão sendo distribuídas, diminuiu a frequência, que era uma por semana, agora está sendo uma por mês, mas ainda estamos distribuindo. Em relação aos alugueis, pagamos diretamente aos proprietários dos imóveis alugados e averiguamos os casos.

Pegunto sobre a relação da Prefeitura com as pessoas desabrigadas e ele diz: "A prefeitura dá a maior assistência ao pessoal lá de cima, oferecemos médicos, psicólogos, cozinha com gás e fogão. Não falta nada pro pessoal lá de cima."

"No final do ano, pode ter certeza que as coisas irão melhorar e tenha muita esperança que tudo irá melhorar." Encerra.


Após andar muito no centro e conhecer algumas pessoas, me dirijo ao local onde estão montadas as barracas. Fica um pouco distante do centro da cidade.


No local das barracas as coisas são bem precárias. Me deparo com duas jovens e logo inicio um bate papo. O olhar de desconfiança é lançado sobre mim. Percebi que as pessoas tem medo de prestar informações para não serem perseguidas. O gravador de áudio e a câmera fotográfica assustam-nas.

Pergunto sobre saúde, alimentação, educação, transporte e segurança. A princípio dizem que tudo está indo bem, mas logo vou ganhando a confiança delas e abrem o jogo. Se fosse julgamento de escola de samba, as notas seriam 0 em cada quesito. A maior reclamação é sobre a alimentação. "Só como a mistura, o arroz, feijão e macarrão, jogo fora, pois estão sempre ruins." Indaga uma moradora quando questionada. As pessoas não querem nada de outro mundo, querem apenas comer comida de qualidade. A reclamação é unânime. "Quando junta a comida estragada com o calor, passamos muito mal." Afirma outro morador.


"Eu não como dessa comida, pego só para que meu nome não seja cortado da lista." Diz o morador que nos mostra a primeira quentinha acima. "Essa mistura que você tá vendo aqui, é de três quentinhas." A alimentação, é a maior precariedade. Muite gente não tem como cozinhar e dependem do serviço de fornecimento oferecido.

Alguns moradores para ganhar alguns "trocados" e garantir uma renda mínima, construíram barraquinhas de taipa onde vendem confeitos, pipocas, refigerantes, flau, entre outros do gênero alimentícios que agradam a criançada. Creio que também sirva para esparecer, já que não se tem nada para fazer.

Passei algum tempo conversando com outro morador que possui uma dessas barracas, enquanto tomava uma "guarina". "O calor aqui é insuportável, tenho dois ventiladores ligados 24h e mesmo assim não consigo suportar. À noite entra um vento quente. Dou graças à Deus quando amanhece pra Eu abrir a barraca e vir pra cá vender os doces, pois aqui é mais fresco."

Pergunto sobre o dia da enchente. "Ninguem via casa mais não, tava tudo coberto de água. A água chegou e Eu estava dormindo com a minha mulher. Acordamos com água na cama. Recuperamos uma televisãozinha e uma máquina de costurar roupas, pois foi muito cara, a pus nas costas e saí com ela." E o médico?? "Aqui não vem médico, quem adoecer tem que ligar pro posto pra ambulância vir pegar e levar."

Outros moradores informaram que o médico vinha com frequência, mas com o passar do tempo não suportaram o calor. Agora só vem esporadicamente.


A situação dos banheiros comunitários também é assombrosa. O odor forte é intenso. As moscas tomam conta de tudo. Isso é mais um risco para a saúde da população.




Outras imagens:





Agradeço à todas pessoas que me prestaram informações, tanto do poder público, quanto dos morados da cidade de Branquinha. Com esse trabalho, levei um pouco de alegria para algumas pessoas que precisavam desabafar o que estava preso. Alguns garotos me cercaram e pediram pipocas, não hesitei em comprar. Ficaram felizes e acima de tudo importantes por serem ouvidos com tanta atenção.

Querem, como já escrevi antes, apenas morar em um lugar seguro, onde possam cozinhar e ter conforto. Cada relato, foi como um tapa no meu rosto. Crianças, idosos, jovens, todos sonham em sair das barracas. O poder público tem que dar ouvido a essa gente amedrontada de sofrer perseguições, por dar algumas informações, por isso foi usado o sigilo nominal de algumas pessoas nessa postagem.

Material de trabalho: Gravador de áudio, câmera fotográfica e bloco de notas.
Despesa com a viagem: R$14,30