Desastre das águas: A esperança continua - Cidade de Murici

Posted by Dallas Diego On 21 de dezembro de 2010 2 comentários
Na segunda postagem da série "Desastre das águas: A esperança continua" , o blog visitou no dia 17/12 a cidade de Murici - AL.

Não é tão difícil encontrar o local atingido pelas águas revoltas do Rio Mundaú, pois vários prédios ainda estão parcialmente destruídos e os entulhos ainda ficam à mostra pelas ruas de Murici.

Justificar

A sujeira na cidade ainda perdura. O vazio exposto, revela onde existiam casas e prédio públicos, além de vários pontos comerciais, que hoje buscam a parte alta da cidade e afastada do Rio Mundaú para se instalarem.

Conversando com a dona de uma mercearia, ela me informa que o comércio está um pouco frio na região atingida pela enchente.

"A feira agora não é mais aqui em baixo, isso atrapalha um pouco, mas ainda tenho meus clientes. Quem deve vem pagar, também tem as pessoas que passam por aqui e levam algo do mercadinho. Infelizmente tem gente que "esqueceu" que devia depois da enchente."

Na parte central da cidade, o comércio não foi atingido pelas águas do Mundaú, mas alguns comerciantes relataram que no primeiro momento os negócios estavam mal. "Vários clientes perderam tudo, dessa forma não poderiam mover a economia da cidade, mas hoje estão voltando as normalidades." Afirma um comerciante.

Andando mais um pouco, mais escombros surgem como em um cenário de bombardeio.


"A parte baixa da cidade está esquecida, é entulho e mais entulho, que não serve pra nada além de ser criatório de ratos e escorpiões." Diz uma moradora.

Paro um pouco e converso com uma mulher que não permitiu ser fotografada. Como anda a cidade? Pergunto. "Está melhorando aos poucos. Temos algumas dificuldades em alguns pontos, a saúde não está muito bem e a educação está se regularizando, pois perdemos algumas escolas aqui em baixo. Mas o que está ruim mesmo é o pessoal das barracas, graças à Deus que não precisei ir pra lá, fiquei em casa de família. Hoje já estou retornando pra minha residência, fiz uma breve reforma e estou morando nela novamente."

A moradora mostra uma casa vizinha a sua. "Aqui Eu uso para estender roupas e guadar algumas coisas. Os vizinhos ainda não voltaram, mas muitas pessoas já retornaram aqui pra rua. Olha onde estão as marcas. " Ela aponta e diz que o posto médico também foi prejudicado e ainda não reabriu. "Esperamos que volte a funcionar logo". Completa.





Posto Médico danificado pela enchente. Por se tratar de uma unidade de saúde, o poder executivo já deveria ter feito os reparos necessários, para que o funcionamento voltasse ao normal. A queixa da moradora em relação a precariedade da saúde, fica confirmada neste registro fotográfico.

Outros prédios públicos danificados são o mercado público e a antiga instalação do Banco do Brasil que funcionavam próximos as margens do Rio Mundaú.


Duas escolas de Murici foram atingidas, a escola Estadual teve seu prédio condenado pela defesa civil e a escola pertencente ao Município foi completamente devorada pela força da água, restando apenas este descampado.


Outra grande perda para educação de Murici, foi a destruição do acervo da Biblioteca Municipal. Alguns twitteiros lançaram uma campanha para que as pessoas doassem livros para recompor o novo acervo da biblioteca.

Atitude nobre de pessoas que querem ver o progresso na cidade.


Quem quiser fazer doações, deverá encaminhar os exemplares para a Secretaria Municipal de Educação de Murici, aos cuidados da Srª. Maria da glória ou no IF-AL/Capus Murici com o Professor Fleming.

O site Painel Notícias lançou a campanha no dia 20/12/2010.




A Câmara de Vereadores de Murici também não suportou a força da água e desabou completamente. Era localizada próximo a escola municipal que desabou, ficando um vazio mórbido na localidade.

Hoje o Poder Legislativo está situado próximo a Predeitura, e por curiosidade é ao lado da residência do Presidente do Legislativo.

As quadras esportivas municipais também foram atingidas, restando apenas o piso. Hoje os moradores improvisam as traves para jogar futebol.

Essa área, era um "complexo" que abrigava a Câmara de Vereradores, Escola Municipal e as quadras esportivas.

O Sr. Washington, funcionário da Secretaria de Educação de Muricinos concedeu uma entrevista. A princípio indago sobre o dia da enchente.

"A enchente pegou a cidade de surpresa, no dia Eu estava em Maceió e recebi uma ligação que a água estava
subindo muito rápido. Começamos a rirar as coisas por volta das H18:30, não dava pra tirar tudo, priorizamos os eletrônicos e os documentos, deixamos muitos eletrodomésticos na casa.

O centro da cidade congestionou por conta da correria. Estava chovendo muito por volta das H20:00 e quando faltou energia, nesse apagar das luzes, creio que as pessoas entraram em pânico. Em dez minutos, a água tinha subido dez centímetros.
Eu fiz uma estimativa que em uma hora e meia o volume d'água iria subir 1,5 metros, isso às H22:00.

Cheguei em casa às H23:15 e fui dormir, quando foi H23:45 a água já tinha subido 2,5 metros, subiu além da média que Eu fiz. Foi uma madrugada horrível, eu saí da água às H4,30 ajudando meus vizinhos e amigos. Nossas coisas foram ficando amontoadas nas ruas. Nesse dia ninguém dormiu. Muitas pessoas perderam tudo, escutavamos gritos das pessoas descendo, ouviamos os prédios desabando."


Houve um aviso prévio da Defesa Civil? "Com relação ao aviso, como Eu estava em Maceió, não tenho ciência disso, mas creio que o aviso demorou a chegar por conta de não existir um sistema que faça uma previsão dessas enchurradas. Pela gravidade da enchente, graças à Deus não morreu mais gente."

E hoje como está a cidade? "A cidade recebeu uma ajuda, as pessoas que não tem seus imóveis estão nas barracas, mas questão de suporte, acho que não está deixando a desejar. Recentemente chegou uma carreta de donativos, sempre estão ajudando. Quem pode, está fazendo algo para voltar a vida ao normal e quem não pode, fica esperando ajuda externa."

E as escolas, como realocaram os alunos? "As escolas estão funcionando com horários especiais para acomodar os alunos das escolas destruídas, até porque não temos espaço suficiente para alojar todos."

E a parte social? "A parte social tem prestado um ótimo serviço, cadastrei os desabrigados e tive o cuidado para não haver duplicação, apesar do pouco tempo que tivemos, pois a ajuda precisava vir e essa informações eram de grande valia. Foram quase duas mil pessoas afetadas."

"Não foi o rio que invadiu a cidade, fomos nós que invadimos o rio." Encerra.

O sistema de abastecimento de água em Murici está normalizado. Água potável saindo pelas torneiras, de acordo com essas simpaticas pessoas.

Agora deixo o centro de Murici e vou de carona com o companheiro Fleming até as barracas. Lá as coisas são diferentes, põe diferentes nisso!



Minha chegada é na mesma hora do caminhão que entrega os alimentos. As pessoas começam a se aglomerar à espera da quentinha. Levam baldes, bacias para auxiliar no trasporte. Pegam para muitas pessoas que moram em uma única barraca.


Quando me avistam tirando fotos, alguns moradores exibem suas quentinhas para serem fotografadas. "Moço, isso aqui não é comida pra gente não, nem meu cachorro come isso." As quentinhas são distribuídas com a apresentação de fichas que são recolhidas pelos funcionários e entregues logo após a distribuição.


As quentinhas que sobram são disputadas por pessoas que moram na "Portelinha", comunidade ao lado de onde estão montadas as barracas. Ficam a espera e torcendo que sobrem, pois poderá ser a única alimentação do dia. Quando pergunto sobre a qualidade da comida, uma moradora da "Portelinha" me diz: "Meu filho, a gente não pode reclamar não, não temos nada além disso." E a fila continua...


Enquanto na cidade as torneiras jorram água, nas barracas o horário é curto. "Quem usar, usou, quem não, tem que esperar o próximo horário." Disse uma moradora. A falta de espeito com ser humano é totalmente visível nesse acampamento. Já não bastasse a péssima alimentação, ainda há hora de funcionamento das torneiras e chuveiros. Fornecem o mínimo para pessoas que precisam do máximo.

Sou acompanhado aos banheiros por uma moradora. Ela confidencia que a sujeira é provocada por quem mora lá, por pessoas que não tem o bom senso de limpar o que faz e mostra fezes no chão do banheiro feminino.
"Isso aqui pode adoecer qualquer um, o cheiro é insuportável."

A mesma moradora me convida para mostar sua barraca. "Aqui moço, moro com a minha filha. Essa televisão que você está vendo, foi minha patroa que me deu, sou muito grata a ela. Fiz um aborto esses dias porque como você está vendo, as situações aqui são mínimas para Eu criar um filho. Não posso procurar emprego porque podem roubar minhas poucas coisas. Aqui é assim."

Quando estou indo embora, um menino me chama dizendo que uma mulher quer falar comigo. Sigo-o até a barraca.

Algumas pessoas me esperam, e logo a moradora mostra uma quentinha, remédios e dois colchões que foram distribuídos pelo poder público ao longo desses seis meses após a enchente.


"Moro aqui com catorze pessoas e logo estará chegando mais uma. A comida é feita de qualquer maneira, as pessoas não tem respeito por nós. Sou hipertensa e recebo a mesma comida que todo mundo, falaram que iria ser diferente, mas não é. Demoro muito para receber meus remédios, isso é uma vergonha. Sem contar no calor que a gente passa aqui, como você está sentindo agora também. Temos que tomar banho em cinco minutos, é um banheiro pra cinco famílias." O calor nas barracas realmente é insuportável, nesse dia o clima estava mais ameno e mesmo assim o suor pingava.

Me despeço e sigo meu rumo para o canteiro de obras onde está sendo construída as primeiras casas para os desabrigados. No meio do caminho encontro umas pessoas pegando água em um reservatório nada limpo.

Essa água é pra beber? "É sim, mas não é muito boa não, tá suja."



Mais adiante encontro algumas mulheres lavando roupa em um riacho, pois o horário da água nas lavanderias já tinha acabado.



"Quando cortam a água lá em cima, a gente tem que vir pra cá. Não gosto daqui, essa água é podre, podemos pegar até germes." Afirma a lavadeira.

No canteiro de obras, procuro o responsável para saber sobre o andamento da do serviço. O porteiro faz contato com o mestre-de-obras, e o mesmo diz que pra falar tem que pedir autorização do engeheiro responsável. Não questiono, faço apenas alguns registros fotográficos.



As pessoas envolvidas no projeto de reconstrução das casas ainda se negam a prestar esclarecimentos. Será que os prazos serão cumpridos?

Por falta de tempo, não foi possível procurar o Prefeito de Murici, Sr. Remi Calheiros. O blog concede espaço para que o Poder Executivo de Murici se pronuncie, caso queira prestar algumas informações.

Outras imagens:







Agradeço ao povo acolhedor de Murici, pelas informações prestadas. Apesar de tanto sofrimento, o respeito e atenção estão estampados no rosto desse simples povo, que não perdem a esperança de voltar a morar em suas residências.

Uma pessoa importante nessa postagem, foi o Porfessor Fleming, que me deu apoio e me apresentou algumas pessoas em Murici para que o trabalho fosse concretizado. O mesmo, lançou uma campanha no twitter para que as pessoas doassem livros para a Biblioteca Municipal, afim de refazer o acervo perdido na enhente.

Espero que essas pessoas sejam ouvidas pelos órgãos competentes e tenham suas solicitações atendidas. Fui muito quesitonado sobre o Natal das crianças desse acampamento, portanto, quem quiser fazer algumas doações de brinquedos, dirijam-se ao acampamento e faça algumas crianças felizes.

Material de trabalho: Máquina fotográfica e gravador de áudio
Despesa com a viagem: R$12,00

Dallas Diego

CadernoB

2 comentários:

JMarcelo Fotos disse...

O nível das matérias ta bom viu?
Parabéns Dallas

Franco disse...

A situação de Murici não está tão boa como eu imaginava. Parecerá redundância. Parabéns pela matéria!!!

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